28 fevereiro, 2017

Desconstruir para CONSTRUIR


Sempre bom ter em mente que aquilo que é seguro um dia se desestabiliza. Por exemplo, a autoconfiança. Sem aviso prévio, você estremece. Vai finalmente se render à fragilidade com que convive – física, emocional, ilusória.
Um dia, a beleza não será mais motivo de elogio. O que restará a se admirar? Não, não estou sugerindo o que as pessoas terão a elogiar em você, mas você a você mesmo. Olhará no espelho e... Estará satisfeito com a vida em seu encalço? Desejará ter feito muita coisa diferente ou se sentirá feliz com suas marcas, rugas, quilos a mais, a menos?
A tristeza um dia bate à porta. Ou arromba, depende do que insistir em invadir seu interior. O que fazer com ela? “Senta aqui, vamos te conhecer melhor e então nos despediremos, elegantemente” ou “Entra no freezer um minutinho que um dia volto”.
A decepção também cruza o caminho. E são tantas as vezes que já até acenamos para ela. “Como vai hoje, senhorita? Quer uma carona?”
Outras vezes, solidão viciante, é a senhora quem nos faz companhia. E curte um drink, uns tragos, é um tanto impaciente, ranzinza... Mas no fundo é uma boa companhia. Especialmente quando descobre a vontade de mergulhar em bons livros e de compartilhar o tanto que aprende em seu silêncio. Quanto mais experiente, mais valoriza momentos de troca, presentes de companhia.
Raiva, amadas pessoas sensatas, atropela. Pode vir puxada pela mágoa, por exemplo. Apesar de incontrolavelmente desequilibrante, ao final, depois de um belo e demorado banho, ela serve para encaixar as tantas coisas em seus tantos devidos lugares – e o que não tem espaço segue seu rumo, aliviando o peso sobre os ombros.
Autossuficiência – prima de primeiro grau do orgulho – cai por terra tão fácil quando se depara com o primeiro aperto... Melhor mesmo é reconhecer que aceitar ajuda é tão importante quanto oferecer (e dar de fato, ainda que de olhos semicerrados).
Desconfiança é sujeito fraco, sem predicados, assim como o julgamento, que pressupõe certa covardia atrás do escudo enquanto ataca, com mísseis de alto ou baixo impacto, no matter. Mas quem é que não se rende a um julgamentozinho de outrem, não é mesmo? Ok, já que estamos evoluindo, que seja – desde que o autojulgamento seja exercício diário e permanente, como respirar. Apenas: autocrítica, sim; sentir-se culpado, não – e muito, muito menos vitimizado. Agarrar-se à pedra ao invés de atravessá-la nunca levou ninguém a lugar algum, a não ser que uma enxurrada aconteça e arraste, involuntariamente, você e a pedra para uma aventura bem desconfortável.
O que torna as pessoas interessantes não é a “perfeição”, suas respostas prontas, soluções na ponta da língua para problemas alheios (e os seus próprios, hein...?), sua força inabalável, o poder da razão. Estas se blindam das emoções e se tornam verdadeiramente solitárias em seu engano.
Somos falíveis quando queremos ser generosos com a gente e com os outros. Quando esquecemos a data de aniversário de casamento justamente quando mais queremos agradecer o amor. Quando prendemos no momento de soltar. E soltamos quando devemos segurar.
Falhamos ao não dizer o que pensamos e guardamos, semeando uma continuidade infrutífera. Somos vencidos por comodismos desperdiçando o prazer de uma aventura, que nos faria assumir medos para poder vencê-los. Somos dúvida, somos frágeis. Humanos. Crianças ao reaprender o equivalente a andar, a sinceramente se surpreender, e chorar, e sorrir. E maduros seremos quando entendermos que nos descontruir é o que nos faz jogar peças fora, juntar velhas, abraçar outras, e nos construir novamente, com uma renovada mente.

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