Sinto-me só como um seixo de praia
Vivendo à busca no cristal das ondas,
Não sei se sou o que não sou. Pressinto
Que a maré vai morar no fundo d´alma.
Calo-me sempre se te escuto vindo
Marulho de incerteza e de agonia;
Há crenças deslizando nos teus traços,
Molhando a estátua do teu sonho antigo.
Declino-me nas frases dos rochedos
Nas pérolas de som do inesquecer
Na incrível sombra da montanha adulta.
E ao me curvar ao peso da memória,
Descubro meu reflexo obscuro
Num soneto de espumas inexatas.
Vinícius de Moraes
24 julho, 2007
02 julho, 2007
dentro da cápsula de prata
Preciso que me digam, que me digam com urgência, o que essas mentes pensam, o que têm em sua consciência? O que os espelhos lhes detonam a cada manhã, vendo escorrer felizes ramelas invisíveis sanguinolentas? O que concluem esses mesmos espelhos – amigos passivos, contidos, contrários – quando a lua brota cansada e os ombros refletidos quedam pensamentos, confabulações, especulações? Qual é o tempo de sua vida, o preço de sua calma, o valor de seu silêncio, a cor de sua alma? Preciosos seriam, mas inexistem aquém do umbigo, travados pescoços pesados que não colocam à prova a panorâmica existência. Preciso que me digam, para que eu permaneça distante de seus pensamentos, indiferente ao foco de suas tramóias: o que há em suas mentes? Há um coração, mesmo que doente ou inconsciente? Mas... de que isso tudo me vale?
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