25 novembro, 2006

enquanto isso, de madrugada...


Surpresas são presentes quando bem-vindas, verdadeiras obras de arte quando bem acabadas, pinturas coloridas dentro dos sonhos, gravuras de sensações prensadas na memória...

24 novembro, 2006

quem



um quer
outro não
um imagina
outro vão

alguém explica
ninguém sabe
alguém decifra
ninguém age

qualquer inspira
nenhum adormece
qualquer suspira
nenhum concede

quem

senão ninguém
sabe, imagina
decifra, age
explica ou não
suspira em vão

concede
a inspiração

inspira
a concessão

um outro
qualquer

nenhum
alguém

quem?


tati

22 novembro, 2006



Preciso de espaço
Um vago espaço no tempo
Onde eu possa ver meus pés no chão
Descalços sobre a grama
Em solitários passos
E fincá-los na realidade
Sobre o piso branco, frio
Saber que o sonho pousa
Onde as palavras transbordam
O resto é realidade
Desejando a areia fina, solta
Uma nesga do espaço sideral
Quer seja real
Ou surreal
Mas me carreguem para onde inda vou
E me avisem que está na hora de acordar

Tati

21 novembro, 2006

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.


Vinícius de Moraes

20 novembro, 2006

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.

Fernando Pessoa

16 novembro, 2006

verdade

Antes de mais nada
Preciso deixar claro
Para quem quer que seja
Que sentimento é sagrado
E está guardado
Apesar do tempo e dos oceanos
No coração aquietado
Digo que é preciso confiar
Ainda que demore
Pois de maduro pode apodrecer
Ou inda mais saboroso ser
Digo que sou humana
Sobre isso fico quieta
Apenas sublinho
Que sentimento é sagrado
Mas a verdade é mais
Melhor dizer o que é
Do que fingir o que não foi
Se humana fui, fraca ou fosca
Reluzi o momento
Deslizei no caminho
Apaguei no final

12 novembro, 2006

quiçá

se a vida esconde
aonde
se há onde vida
longe
se de longe escondo
conte
se se esconde a vida
fonte
se de mim você
esconde
se em você penso
responde
se por nós o tempo
remonte
que tua vida enfim
me encontre

09 novembro, 2006

aparecida

como é bom viver assim
sem a menor aventura
sem nó atado à garganta
nem a desventurada espera
por uma notícia na berlinda
ela finalmente apareceu
podemos respirar até o fim
o que fica dessa experiência
é a fragilidade, minha, nossa, dela
quão despreparados somos nós
crianças com medo de cabra cega
fracos, importentes, entregues
onde está a força que dizemos ter?
a luz, calma, serenidade
sempre desejados com irritante segurança?
somos frágeis feito um gatinho nascendo
inocentes assombrados pela culpa
o orvalho que a manhã esquenta
ninguém guarda a não ser a chuva
uma lâmpada que de repente queima
é maldita e, trocada, esquecida
nós, por instinto, lutamos
pela vida - e contra ela existe muito
sejamos fortes, pelo menos uma vez
e que não haja uma próxima vez

Fran

O sorriso largo é a lembrança que fica suspensa quando se prende o ar. Como queria não soltá-lo para não perder essa imagem. A esperança nos olhos pequenos, aflitos, brilhantes, sempre dispostos, atentos, aqui e lá, no chão e nas estrelas, sonhando. A doçura da guerreira impulsionada pelo puro instinto de viver. Viver de verdade a aventura da vida. Quem se lança ao desconhecido reconhece um espírito jovem pela essência, sua leveza. Força, ela me disse numa manhã cinzenta. Eu vou ficar bem, respondi com gratidão. Sinceridade singela. Pulsante vibração. Sensibilidade rara. Ausência que agora, curada, me faz temer. De mãos atadas, digo-me para não desistir. Enquanto a mente procura lembranças, pistas, prosas, o sorriso largo vem... Força, eu lhe peço em pensamento. E a esperança resiste, sem dormir.

07 novembro, 2006

A vida às vezes cansa a gente.
Aperta o peito diferente
Sufoca
Não repousa feito na terra a semente
Abafa.
Não respira feito planta crescente
Resseca.
Ressaca.
Ressente.
Não brilha como cristal raro pendente
Ofusca.
A vida é tão somente
Muitas vezes
Uma porção de gente ausente
É a gente, sozinho, somente
Desejando um beijo ardente
Um café com leite quente
Um alfinete
Um suspiro
Um lembrete
De repente, é um banquete
De tarefas em mente
E tudo volta a ser,
Simplemente
Presente.

06 novembro, 2006

"(...)pensar, agir, transcender. Usar elementos que não estão ao alcance do nosso olhar ou das mãos. Palpitam no coração ou em qualquer outro orgão mais suscetível a percepções. Mãos, talvez ouvidos. Olhos da alma, quem sabe. Que a força criadora pulsante no plano sutil seja abençoada de bons pensamentos e presságios, sorrisos nos rostos de cada um que está disposto a ver além. Além do que podemos parecer. E podemos."