15 outubro, 2007

Brinde parisiense

Agora, que me lembro e dou conta
Não posso ficar mais quieta do que sou
Não mais do que já fui
Nem menos do que espero
Quero confessar que aquela lágrima
Sorrateira e solitária,
Eu mal sabia, mas ainda existia,
Como último suspiro de uma lembrança
Triste, dolorida, mas que persistia
Corroía como quem machuca devagar, sem avisar
E entre mãos e copos, salames e mafiosos
Foi aniquilada, elegante como Corleonne
Sem remorso ou saudade
Implacável como um gesto de carinho
Impagável como o alívio reconfortante
Viagem sem volta, a primeira de uma série
De extermínio a assassinos
Que quando morrem nos libertam
De pensamentos, recordações,
Sensações sem velório ou utilidade
Exemplos para o que prende e limita
- dela jurados
Você presenciou tal morte
Sem direito a último suspiro, é verdade
Mas com a vontade de ser comemorada
Com mais um brinde à sua má sorte


Tati

Palavrar em vão

Lançam mão de meu sucesso
Reconhecimento nesta servidão
Valorização das horas-extras
Tempo recorde em série-produção
Estas palavras que de mim se apoderam
Que não querem minha promoção
Palavras que saltitam através de meus dedos
E insistem em fazer versos em vão
Quão insanas, inválidas, insossas
Prepotentes, sobrepõem-se à direita razão
Apontam, cutucam, esfregam
A cada momento, a fétida inspiração
- esta que me resume, entrega, ilumina o que trago dentro do peito
Como se fosse razoável ouvir o que diz o coração
Deixem-me trabalhar, palavras incontidas
Recolham-se à sua inexatidão
Aconcheguem-se no canto escuro que já conhecem
- mas respirem, mantenham-se vivas
Antes que eu ordene aos sonhos que as petrifiquem em ilusão


Tati