Propósito há em tudo o que acontece. De bom inclusive. Mas na mesma medida ou ainda mais, me parece que os percalços são quem nos dá um aviso, alerta de que algo está latente e precisa ser depurado.
Reconhecer limites e limitações quando ficamos doentes, quando algo nos incomoda em menor ou maior grau, quando uma proposta incrível que criamos não é aceita ou quando postergamos aquele trabalho para o limite do prazo, tudo diz algo de nós para nós mesmos.
A doença, um pedido do corpo por cuidado, tempo, leveza, aceitação; o incômodo, situações que precisam ser expurgadas, trazidas à luz, ao reconhecimento de si, do que não muda ao movimento de mudar, aceitando um ou outro; a frustração, um caminho alternativo, um preparo necessário, uma reflexão de propósito – assim como quando adiamos algo que parecíamos querer e, paralisados (ou cheios de tarefa), ficamos em volta com pensamentos marcados de futuro do pretérito – aceitando culpas ou encontrando alvos para nos eximir delas.
Aceitação é chave-mestra.
Encontrar o propósito, ainda que sutil, como o tempo de brincar, de parar ao sol, respirar à sombra de uma árvore, sentir o aroma da comida em preparo, de dar atenção a cada um; ainda que gritante, como o de um conflito, uma discussão, um rompimento, perdas... nos faz mais maduros e serenos, não importa se aos 20, 40 ou 80.
Qual o propósito de alimentar rancores, por exemplo, se ressentimentos nos paralisam num ciclo culposo, impedindo o movimento da evolução?
Conscientes, respiramos em sintonia, sabemos que estamos onde devemos estar, seja para permanecer ou para mudar, que somos parte essencial de um processo de evolução contínuo, que nossos atos, pensamentos e intenções emanam energia, frequências que encontram conexões e se fortalecem.
Qual o propósito de vibrar inveja, por exemplo, sentado confortavelmente em uma ilusória sensatez, sem olhar para o que te incomoda em você mesmo? Desequilibrar a estabilidade pode ser um achado evolutivo.
Quem sabe o nosso papel dentro de uma sociedade que não entende seu propósito de transformação, preferindo a segregação, a não aceitação do outro, estagnada moralismos e criadora de guetos, seja este: o de compreender que somos - juntos.
O nosso lugar sob sol é o mesmo de todos os outros. Se estamos próximos, influenciamos e somos influenciados, qual o propósito de alimentar discórdias mesmo?
Que possamos sentir profundamente o que nos aflige, incomoda, paralisa, para então encontrar nosso propósito e jeito próprio de mudar. Não precisa ser radicalmente. Que seja uma mudança lenta, desde que consciente e na direção acertada, em consonância com o propósito de sua vida - quem sabe o amor.
Um comentário:
Minha amiga querida, lendo sua croniquinha (é uma expressão carinhosa, você sabe), me ocorreu o verbo encontrado pela personagem nada fictícia de Liz Gilbert, interpretada por Julia Roberts em Comer, Rezar, Amar: "attraversiamo". Rumo aos propósitos de cada um. Beijos deste leitor e fã. Carlos Santiago
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