04 janeiro, 2017

Tempos verbais



Em tanto tempo poderia ter sido versada nossa história
Mas é o futuro do pretérito que teima em conjugar
Tantos verbos de possibilidades que ficaram pelo caminho
Nesta vida em que a trave protagoniza o afetivo-amoroso destino
Desatino aspecto da existência sola, solitário espírito
Poderia, seria, existiria, viveria... teria dado certo
‘Se’ alguém tivesse feito, dito, amenizado, compreendido,
Ajudado, participado, optado
Acalmado, respirado, convencido
Querido, insistido, acreditado
Mas, dependentes desse infame, minúsculo “se”
Os verbos agonizaram, sucumbiram, maldisseram
Buscaram no passado o presente perfeito
Quando os tempos já haviam mudado
E o futuro, esquecido entre pronomes

Não há mea culpas, meandros, sortidos arrependimentos
São os fatos somente, teimosos porque imaturos
Malconservados porque distantes se tornaram
E fizeram dos sentimentos, adormecidos,
Como se nada mais os permitissem encontrar um novo tempo
(nem a década que passou achou conjugação que desse jeito)

Mas, porque verdadeiros, resistiram
E num ímpeto destino por Deus subjugado,
A chance do presente ser indicativo se fez
E num breve momento cotidiano vi sua tez
Marcada pelo tempo, e ainda assim a mesma
Que amei, intensamente, e insisti na nossa cena

O breve cotidiano aproximou o passado do presente
E o momento se refez.
Mas foi apenas para me lembrar do amor que tive
Merecedor da eternidade dos tempos
E agora jaz silencioso
No pretérito mais que perfeito

(para Eduardo, 23/10/2016)

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