02 dezembro, 2009

Perdão à morte


Um dia todos vamos morrer. Saber para onde vamos, sabemos. Ao pó voltaremos, depois de nos decomporem, aqueles organismos que existem para isso mesmo. E necessários eles são. Como todos, uns para os outros. Até nos parecerem, e parecermos, desnecessários. Uns para os outros. Com a morte, o corpo físico vai, pra onde já sabemos. Lentamente, e longe da nossa visão, desaparece. Um dia tudo acaba. Somos todos finitos. Finitos?
Porque não aceitamos a morte, não nos preparamos para ela enquanto vivemos. E quando ela resolve parar no nosso pensamento, é estranho... O que ficarão serão nossos frutos, o que produzimos, o que parimos, o que escrevemos e musicamos? E a nossa alma, a que nos faz arrepiar de repente sem vento, a que nos faz sonhar e vagar por onde não vemos, a que nos faz sentir com força que não é isso que queremos? A alma sabe antes... da morte? E depois dela, a imatéria perdura? Ela permanece individual, solitária e sem identidade, ou volta para a massa invisível, influenciando, influenciada...? Tem consciência a alma que se perde do próprio corpo?
A energia que carregamos em vida atrai e repele, sincroniza e tumultua, acalenta e desafia. Está contida nesses seres perfeitos que somos, máquina complexa, frágil, por vezes desrespeitada e na maioria ignorada frente à sua tamanha sabedoria nata. É quando perdemos tempo com o que não nos simpatiza ou serve. Um atrair ao contrário, algo que nos desestabiliza. Por algum motivo, pagamos para ver o que já sabemos não crer. Teimosia, que recai para a apatia, que desperta e conscientiza, quando nos deparamos com o quanto da vida perdemos. E antes que acordemos novamente para o tempo que nos resta, a morte nos visita – quer nos avisar algo: ‘você passou perto’. E arrepia, e sinaliza, e dá um tapa nas costas. Continuamos a não querer lhe dar bola, mas sabemos que sempre à espreita ela está. Que seja, então, boa amiga. E acredite que ainda não é chegada a minha hora.

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